Por minha infelicidade entrei nesta triste vida
Não gosto nem de contar minha história sofrida
A desgraça enche meu rosto
Minha alma entra em desgosto
Meu peito é uma ferida
Quando me lembro senhores
Do meu tempo de inoscente
Que brincava nos cerrados
Do meu sertão sorridente
Magoado dessa paixão
Sinto que meu coração
Bate e chora amarguradamente
Meu pai e minha mãe querida
Quiseram me ensinar
No seu colo carinhoso
Ela ensinou-me a rezar
E a luz dos pirilampos
Ele ensinou-me nos campos
Eu menino a trabalhar
Cresci na casa paterna
Quis ser um homem de bem
Viver do meu trabalho
Sem ser pesado a ninguém
Fui almocreve nas estradas
Fui até bom camarada
e tive amigos também
Tive também mes amores
A quem cultivei minha paixão
Amei uma flor mimosa
Filha lá do meu sertão
Sonhei de gosar a vida
Junto da prenda querida
A quem dei meu coração
Hoje sei que sou bandido
Como todo mundo diz
Porem já fui venturoso
passei meu tempo feliz
quando no colo materno
gozei o carinho terno
de quem tanto bem euquiz
Meu rifle atira cantando
em compasso assustador
faz gosto brigar comigo
porque sou bom cantador
enquanto o rifle trabalha
minha voz longe se espalha
gosando do próprio horror
Nunca pensei que na vida
fosse preciso brigar
apesar de ter entrigas
gostava de trabalhar
hoje sou cangaceiro
enfrentarei o bauseiro
até alguém me matar
Quando pensei que podia
o caso estava sem jeito
agora vou dar trabalho ao governo
enfrentar tudo de peito
e trocar bala sem receio
morrendo num tiroteio
sei qu morro satisfeito
LAMPIÃO, 1937
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